A Figueira do Tio Madeira
De todas as coisas que o Tio Madeira tinha, aquela de que ele mais se gabava era a sua figueira, que não havia árvore alguma em Moselos a dar fruto como aquela. E ai de alguém que lhes deitasse a mão, que só à sua barriga haveria de servir. Todos os dias, ao pôr do sol, sentava-se no seu tronco, com a sachola:
– Ah, venham lá vocês agora!
Dizia ele, a proteger os seus preciosos figos da gente que regressava das terras no fim do dia.
Mas como o fruto proibido se torna mais apetecido… os rapazes mais novos, com fome não de figos, mas de novas aventuras, combinaram trepar figueira acima antes que o Tio Madeira chegasse e montasse a sua vigia. Cada um levou um lençol e um saco cheio de pedras. O Tio Madeira chegou e sentou-se a vigiar, longe de imaginar que muitos dos seus preciosos figos já haviam sido comidos. Mas agora, de barriga cheia e o sol já posto, os rapazes queriam regressar a casa. Mas o Tio Madeira dormitava ao pé do tronco e no seu braço via-se o sacho pronto.
Do cimo da árvore, um dos moços atirou a primeira pedra , com vontade de lhe acertar.
– Shhh, tá quieto, olha que matas o velhote! – Disse o rapaz do lado.
Mas já era muita a espera e aqueles figos quentes tinham de sair por algum lado. Então, um atrás do outro, atiraram pedras lá para baixo, e estava-se mesmo a ver que uma delas, “plim”!, Acertou no sacho.
– Shhhhh!
Cobriram-se com os lençóis para ficarem escondidos e o Tio Madeira olhou para cima mas não viu nada além dos figos. Mas depois olhou melhor e lá estavam eles pendurados nos ramos. Não eram um, nem dois, era uma data de fantasmas:
-Óh almas do outro mundo! Comam os figos todos mas deixem-me em paz! – gritou o Tio Madeira.
Foi a correr para a aldeia, (o que a falta de luz nos faz), e espalhou por todos os cantos que os seus figos eram de primeira! Porque não só aos vivos, mas também aos fantasmas agradava a sua figueira!
Escrito por: Dennis Xavier
Voz: Clara Spormann
A partir da recolha de histórias na freguesia do Campo, concelho de Viseu.
Informantes: Jorge Lopes – Recolhido em julho de 2021
Ilustração: Mariana Vicente