Lobisomem de mundão
Diz-se por aí que o lobisomem corre pelas noites de lua cheia até passar sete montes, sete fontes, sete igrejas, sete cemitérios e sete pontes. Mas em Mundão, o fado era diferente. O bicho, em vez de se pôr em correrias pelos montes, tinha por capricho subir paredes das casas acima, apoiar-se em bicos de pé e espreitar para dentro das janelas para observar as senhoras a trocar de roupa. Uma criatura do demónio que fazia uso da sua agilidade para meter o nariz em janelas alheias! Mas houve um dia, uma noite, conta a Maria da Graça, que uma mulher o sentiu “bufar” lá fora. Ela saiu pelas traseiras, deu a volta com um pau e lá estava ele encavalitado à janela! Quando o viu, gritou:
– Ah seu lobisomem! – e deu-lhe tantas, tanta porrada e ela era uma mulher forte! Nunca mais tornou a andar!
Era assim o antigamente. Agora os vultos, as bruxas e os lobisomens são bem iluminados e já não saem à rua.
Relatado por: Maria Graça dos Santos
A partir da recolha de histórias na freguesia do Campo, concelho de Viseu em julho de 2021.
Ilustração: Mariana Vicente