Era uma vez uma linha de fronteira, aqueles que a cruzaram e o porquê de o terem feito
Sinopse provisória
“Era uma vez uma linha de fronteira, aqueles que a cruzaram e o porquê de o terem feito” é uma proposta de criação que procura abordar, sob uma premissa renovada e à luz das ocorrências mundiais dos últimos anos, a questão dos trânsitos migratórios.
O processo de criação que conciliará as linguagens do teatro e movimento, alavancará dois níveis: uma abordagem histórica concreta, a partir de fontes que retratem a realidade portuguesa de “fuga” e procura de melhores condições de vida no exterior (mormente nos trânsitos ocorridos nos anos 60 e 70, para a Europa), em período de ditadura, mas igualmente outros momentos de partida e (por vezes) regresso, como para o Brasil e o que à época se consideravam colónias, com os seus impactos na sociedade que permanecia. Uma outra valência, centra-se na intervenção direta e pessoal, num Portugal que acolhe e se renova, no que é desde sempre uma das matrizes do território (desde o período de domínio árabe e transcurso moçárabe da Idade Média), atualmente visível na migração dos países da CPLP (mormente Brasil) e Europa de Leste, mas igualmente nas comunidades orientais, sobretudo da China, Índia, Paquistão e Nepal.
A narrativa final, dramatúrgica, assumirá os dois âmbitos num salto temporal e territorial contínuo. O que é migrar e porquê? Quem o fez? A escolha da zona raiana portuguesa, como ponto inicial de desenvolvimento do projeto, passa igualmente pela caracterização da realidade das partidas “a salto”, não descurando que muito do que é partir, por vezes sem mais do que sonhos ou necessidades, ocorre pelas circunstâncias que se impõem, mais do que por escolhas deliberadas. Cruzar fronteiras foi, no Portugal que quase esquece isso três quartos de século depois, a diferença entre viver ou sobreviver. “Era uma vez (…)” é também e em parte, a mala de Walter Benjamin, que ninguém sabe o que continha, ou a razão de nunca a ter abandonado.