Deixa-me Cantar Antes que Esqueça
A mulher que mora no final do tempo, ali na esquina do fim do mundo, tem muitos nomes. Ela é uma espécie em vias de extinção, como os lobos que antigamente povoavam as serras. Fomos encontrando as provas da sua existência por entre relatos e canções, na boca das mulheres saudosas, das avós, mães e netas. Pedimos que nos contassem como foi, que levantassem o véu daquilo que ficou escondido nas pedras das casas, nos campos da ceifa e no caminho do rio. Entre o céu e a terra, estão as vozes que embalam os gritos de antigamente. Deixa-me cantar antes que as esqueça.
“Deixa-me cantar antes que esqueça” é um espetáculo que nasce da recolha de testemunhos e histórias na região de Viseu, nas freguesias de São João de Lourosa, Rio de Loba e Silgueiros. Para esta criação, o foco foi nas histórias das mulheres poderosas de outrora, figuras frequentemente invisíveis que povoavam as aldeias e que eram a espinha dorsal das famílias. A transversalidade dos seus testemunhos, que abarca a dureza do trabalho, da maternidade e da vida doméstica, mas também a alegria do convívio no baile de Domingo, é o registo de um Portugal recente mas já quase extinto. A par da palavra falada, surge o canto, ecos da vida feminina nos campos e nos lares. No processo de criação este cancioneiro foi trabalhado, harmonizado e reinterpretado a três vozes. Em palco, destacamos objetos como a capucha, a gambiarra, a canastra e a gamela, que carregam a simbologia do quotidiano destas mulheres. Inspirada também nas palavras de Clarissa Pinkola Estes e Paola Klug, a dramaturgia tem como objetivo iluminar as dimensões escondidas da mulher que vive no passado e é evocada por nós. Vive no presente e tem um lugar à nossa mesa. Vive no futuro e volta atrás no tempo para nos encontrar, agora. Para terminar, antes da despedida, revivemos o baile de Domingo, ritual que obriga a reencontrar os olhos e o corpo da comunidade.
Sinopse
Esta noite, Perséfone vai ter que dormir sozinha, ainda por cima num quarto que não é o dela, recheado de sombras estranhas e ruídos assustadores. Até o peluche que lhe faz companhia não é o seu. E surge na cabeça da pequena Perséfone a grande questão: “Para que serve a noite?”. Armada apenas com coragem e curiosidade, a menina heroína embarca numa viagem emocionante à descoberta dos segredos da noite.
“A noite serve… para caçar pensamentos. A noite serve… para ter saudades.
A noite serve… para contar segredos.”